Da escravidão para o trabalho livre
Desde
o início do século XIX, a Inglaterra, na condição de potência hegemônica da
nova ordem econômica internacional, pressionava o Brasil para que acabasse com
o tráfico negreiro.
Navio Negreiro
As rotas do tráfico de Escravos africanos para as Américas e Brasil
Durante quase cinquenta anos, o Estado brasileiro resistiu
a tomar essa medida, a cafeicultura. Embora não fosse a única forma de
exploração da mão-de-obra no país, a escravidão era relação de trabalho quase
exclusiva nas fazendas de café.
Havia,
porém, interesse em procurar alternativas, não só pela incapacidade brasileira
de resistir indefinidamente às pressões britânicas, mas também porque a elite
dirigente desejava impedir o aumento da população negra, pois para ela era
fundamental “embranquecer” o país.
No final do século XIX e início do XX começam a chegar imigrantes europeus.
Imigrantes europeus em fazenda de café no Brasil.
Em
1850, com a pacificação de todas as regiões do país e a consolidação do Estado
nacional, foi afinal possível impor o fim do tráfico negreiro, a despeito da
insatisfação de traficantes e cafeicultores. Resistindo às mudanças, os
fazendeiros de café paulistas recorreram aos estoques de escravos de fazendas
decadentes do Nordeste, onde havia mão-de-obra ociosa, alterando assim a
distribuição geográfica da população escrava. Intensificou-se então o que já
era o principal fluxo migratório do período, somando-se ainda a migração que se
formou em direção ao Norte, graças ao aumento da produção de borracha. Com a
escravidão tornando-se cada vez mais um anacronismo na nova ordem internacional
e o fim do tráfico negreiro, cafeicultores e governo acabaram por encontrar nas
camadas mais pobres da população europeia uma nova fonte de mão-de-obra para o
mercado interno de trabalho. A partir da década de 1870, foi possível trazer
grandes levas de imigrantes para as fazendas de café (principalmente italianos
para São Paulo), graças ao subsídio governamental. Estavam dadas as condições
necessárias para o fim da escravidão; mas o governo defendia a abolição
gradual, implementada a partir da aprovação da Lei do Ventre Livre. Ainda
maioria entre os trabalhadores nas
vésperas da abolição, e até há pouco “mãos e pés do senhor”, os escravos
passaram, entretanto, a ser um entrave para o aumento da imigração.
Dificultando a reorganização das fazendas de acordo com o novo tipo de
mão-de-obra, o fim da escravidão tornava-se afinal desejável para os
anteriormente relutantes cafeicultores do Oeste paulista.
Fonte: História do Brasil - Flavio de Campos e Miriam Dolhnikoff.
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