Na
primeira metade do século XVIII, apesar de a sociedade do Antigo Regime
permanecer organizada em estamentos, não havia no plano cultural uma
uniformidade que correspondesse àquela estratificação aparentemente rígida. O
ponto central da questão estava na difícil definição do que deveria mudar e do
que deveria ser mantido. O grande conflito cultural dentro de todos os grupos
sociais, e entre estes, era portanto entre tradição e transformação.
A
cultura clerical sentia o problema nos desacordos entre o clero que frequentara
os seminários (criados pela Reforma Católica do século XVI) e o clero que não
recebera aquela formação. Teoricamente constituindo um só estamento, com uma
mesma cultura, o clero na prática apresentava realidades bem distintas. E isso
se refletia nas outras camadas sociais através da educação transmitida pelo
clero. Uma escola mantida pela Igreja em uma grande cidade era bastante
diferente daquela dirigida pelos párocos rurais.
Reformas Protestantes - Lutero
Entre
os nobres, a situação era semelhante. A alta nobreza, apesar de favorecida pelo
Estado, permanecia arraigada culturalmente a seu passado de poder, não vendo
com bons olhos as mudanças culturais que acompanhavam a centralização política.
Os nobres das províncias, menos favorecidos em todos os aspectos, oscilavam
entre seus velhos ideais ( e nisso se identificavam com os nobres ligados à
corte) e as propostas inovadoras vindas da burguesia urbana.
No
Terceiro Estado, as populações rurais, sempre mais conservadoras, viviam
basicamente como nos séculos feudais. As populações urbanas apresentavam grande
diversidade, mas de forma geral maior dinamismo. Os pequenos artesãos e
comerciantes, recém-vindos do campo, mantinham ainda muito do folclore e dos
hábitos de suas regiões de origem. Aqueles que habitavam há mais tempo as
cidades já haviam absorvido dados culturais de diferentes procedências.
As
propostas de transformações partiam, pois, das cidades. Em meio às suas
diversas atividades, ganhava destaque uma certa parcela da burguesia. Cheia de
combatividade intelectual, ela tinha os olhos fixos mais no futuro do que no
passado. Ela expressava artística e literariamente as reivindicações de um
segmento social que cobrava maior participação nas decisões da sociedade. Ela
valorizava os instrumentos racionais como meio de atuação social do homem.
Os pensadores iluministas
Assim, o desenvolvimento intelectual laico, citadino, burguês e racional, que
despontara com o Renascimento, ganhava mais consistência e criava condições
para que o século XVIII fosse o Século das Luzes.
Fonte: História Geral - Hilário Franco Jr. Ruy de O. Andrade Filho.
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