Nada é Definitivo!

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Homenagem ao dia do Índio.


Lição de um chefe indígena sobre a exploração de pau-brasil





Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?

Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus  cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? 

– Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.

_ Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre?

 _ Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: 

E quando morrem para quem fica o que deixam? 

_ Para seus filhos se os têm, respondi, na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. 

_ Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs (franceses) sois grande loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

Fonte: Extraído do livro Viagem à terra do Brasil – 1960 de Jean de Léry.
O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro.

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