Nada é Definitivo!

"Como o nome do Blog diz, não existe uma única verdade, portanto, sempre temos que investigar tudo o que nos dizem sobre a história, para que possamos chegar mais próximos de uma verdade. Este blog é apenas um dos vários caminhos que existem, sejam bem vindos."

sábado, 29 de abril de 2017

Navio Negreiro adaptador pelo rapper Slim

Adpatação   - O Navio Negreiro – rapper Slim Rimografia



Estamos em pleno mar, Embarcações de ferro e aço, Onde pessoas disputam / Palmo a palmo por um espaço.

Nesse imenso rio negro / De piche e asfalto, Cristo observa tudo calado, De braços abertos lá do alto.

Onde a lei do silêncio / Impede que ecoe o grito do morro, Dos poetas em barracos sem forro, Que clamam por socorro.

Homens de pele escura / Sem sobrenome importante, Filhos de rei e rainhas / De uma terra tão distante.

O mar separa o Brasil da África, Um rio separa as periferias / Das mansões de magnatas.
Uniformes diferenciam / Funcionários e patrões. A cor denuncia / As vítimas de antigas explorações.

Trazidos nos porões / Dos navios negreiros, Tratados como animais, Vendidos a fazendeiros.
Vivendo em cativeiros, Negociados como mercadoria, Enriquecendo a classe nobre, Hoje chamada burguesia.

Deixaram pra trás lembranças, Dialetos e crenças. Caçados, mortos ou açoitados / Quem tentou a resistência.

Marcados como gado, Sem direito à educação, Emudeceram seus tambores, Amaldiçoaram sua cultura e religião.

Alguns morreram de fome, De sede, de frio. O corpo magro cheio de marcas, O estômago vazio.

Me diz quem são os heróis, Quem são os bandidos. Quem merece a honra, E quem merece ser punido.

Quem lutou por liberdade, E na história foi esquecido. Sem estátuas ou monumentos, Só barracos foram erguidos.

No chão pisado, onde tudo foi negado, Sem estudo, sem instrução, Herdou não só a pele escura, Mas o cabelo encrespado.

Fez o samba, fez capoeira / Na poeira do serrado. Fez dos restos que lhe deram / Pratos hoje contemplados.

Temos a ginga, a malandragem, Habilidade e o swing. Temos força, temos fé, Que vão além dos campos e ringues.

Somos índios, somos brancos, Somos negros, somos afrodescendentes. Somos raça, somos povo, Somos tribo, somos gente.

Somos sonhos, somos luta, Somos mão de obra barata. Somos arte, somos cultura, Somos ouro e somos prata.

Fomos tratados como nada, Trazidos como bichos, Oprimidos e usados, E depois dispensados como lixo.

Temos muito que mudar, A história não acabou. Lembrar cada vida que por liberdade / Como Cristo se sacrificou.

Ancestrais, bisavós, Cuja voz foi silenciada, Por nós sua luta / Não pode ser abandonada.
O navio hoje é barca / Sem velas, só sirene. Navegando na estrada, Hoje volantes, ontem lemes.

O porão do navio / Hoje é chiqueiro de camburão. Os chicotes e açoites / Trocados pelo cacete e oitão.

A senzala virou presídio, O quilombo é a favela, Os zumbis pelo mundo / São Malcolm X, Luther King, Zumbis ou Mandelas.

A escravidão ainda existe / Em cada olhar triste, nas esquinas, Nos becos, ruas e vielas, E nos sonhos em ruínas.

Nos esgotos a céu aberto, Nas crianças desnutridas, Nas mãos pequenas que pedem esmolas, Nas rua e avenidas.

Nos malabaristas da miséria, Sob o sol nos faróis da cidade, No show da sobrevivência / Artistas por necessidade.

Herdeiros da miséria e do tráfico / Dos escravos trazidos em navios, Alguns hoje de fuzil são traficantes, Soldados do breu em busca de brio.

Pátria amada, idolatrada / Ó mãe gentil, Onde estavas / Que tamanha atrocidade não viu?
Negras mulheres suspendendo às tetas / Magras crianças de cujas bocas pretas / Escorre o sangue das mães. Moças, nuas e espantadas, De medo acuadas / Em desespero aterradas.

É ...Tem um pouco de navio negreiro / Debaixo de cada viaduto, Em cada lágrima derramada, Em cada mãe que veste luto.

Tem um pouco de navio negreiro / Em cada mão que pede esmola, Em cada beco ou viela, Em cada criança longe da escola.

Tem um pouco de navio negreiro / Na viola, no pandeiro, No atabaque, no cordel, Na enxada e no tempero.

Tem um pouco de navio negreiro / Na igreja e nos terreiros, Nos santos, nos orixás, Nas benzedeiras e nos obreiros.

Tem um pouco de navio negreiro / No crucifixo, no patuá, No cabelo sarará, na mulata, no crioulo, E na cumbuca de munguzá.

Tem um pouco de navio negreiro / Na música, na poesia, Na dança, nas artes, E em cada panela vazia.

Tem um pouco de navio negreiro / No futebol, no Carnaval, No azeite de dendê, no acarajé / E no nosso Código Penal.

Tem um pouco de navio negreiro / No reflexo em frente ao espelho, Dos que lutaram e morreram / Pra não viver de joelhos.

Tem um pouco de navio negreiro / Em cada conquista, em cada vitória, Na pele, na memória, no coração, Na minha, na sua, na nossa história.

Tem um pouco de navio negreiro / Em cada brasileiro, Tem um pouco de navio negreiro.


Fonte: Livro O Navio Negreiro da Editora Panda Books.

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