Li
o livro Memórias de uma Guerra Suja (autores Marcelo Netto e Rogério Medeiros - editora TopBooks),
na qual o ex-delegado capixaba Cláudio Antonio Guerra conta como ele e o
ex-delegado paulista Fleury (Sérgio Paranhos Fleury) foram recrutados para
dirigir ataques e perseguições contra a esquerda durante o regime militar.
É
um depoimento que ajudará e muito a recém criada Comissão da Verdade iniciada
em Brasília sobre o período.
O
livro é imperdível para quem gosta do tema e também que quer saber um pouco mais, porém tem que ter estomago forte
para ler esse depoimento, onde Cláudio Guerra relata verdadeira barbárie
cometida pelos órgãos repressores da época, onde valia tudo; matar, torturar,
enganar, incriminar, trair, etc.
Ele
nos relata as perseguições ao Partido Comunista Brasileiro, mostra como grande
parte da elite brasileira (empresários, fazendeiros, artistas, donos de
jornais, alguns jornalistas, empresários do ramo da comunicação TV, entre
outros, participaram e apoiaram os esquadrões da morte) é claro que nada do que
a maioria dos historiadores e pesquisadores já não desconfiavam, ou até já conheciam, porém seu
depoimento é esclarecedor em muitas dúvidas que até então eu ainda tinha, e outros fatos que desconhecia.
Como
na morte de Fleury em Ilha Bela, no caso do Riocentro, ao ataque ao Jornal o
Estado de São Paulo, ao atentado a bomba na casa de Roberto Marinho, ao
atentado na Rádio Nacional de Angola, na participação de veículos da Folha de
São Paulo para ações de captura de comunistas ou membros da esquerda da época,
o contrabando de armas, envolvimento da CIA, envolvimento do jogo de bicho,
envolvimento no sequestro de Abílio Diniz, o caso Baumgarten e, ainda cita nomes
de vários artistas e empresários que estão na mídia até hoje.
É
um livro que não podemos deixar de possuir em nossa biblioteca particular, pois
conta muita coisa ruim que ocorreu em nosso país durante o regime militar.
Parabéns
aos autores Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que durante toda a narração foram
imparciais, ou seja, verdadeiros jornalistas.
A
pergunta que fica é, como ainda a maioria do povo brasileiro continua
desinteressada por esse tema.
Isso
me faz lembrar de um e-mail que recebi a algum tempo atrás, que não sei quem
escreveu, mas é oportuno citar neste momento:
Maiakovski -
Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu,
ainda no início do século XX :
Na
primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
E não dizemos nada.
Na
segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até
que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E
porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.
Depois de Maiakovski…
Primeiro
levaram os negros.
Mas
não me importei com isso.
Eu
não era negro.
Em
seguida levaram alguns operários.
Mas
não me importei com isso.
Eu
também não era operário.
Depois
prenderam os miseráveis.
Mas
não me importei com isso.
Porque
eu não sou miserável.
Depois
agarraram uns desempregados.
Mas
como tenho meu emprego.
Também
não me importei.
Agora
estão me levando.
Mas
já é tarde.
Como
eu não me importei com ninguém.
Ninguém
se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Um
dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como
não sou judeu, não me incomodei.
No
dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
Como não sou comunista, não me incomodei .
No
terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como
não sou católico, não me incomodei.
No
quarto dia, vieram e me levaram;
já
não havia mais ninguém para reclamar...
Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas.
Primeiro
eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois
incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois
fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam
então o portão da favela, que não habito;
Em
seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...
Cláudio Humberto, em 09 FEV 2007
O
que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.
Incrível
é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes,
e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que
vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos
roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil…
-
até quando?...
Li o livro.
ResponderExcluirEste é o delator:
Ainda na década de 70, Rogério Medeiros fez uma vasta investigação sobre Cláudio Guerra: desde sua trajetória como oficial de justiça no interior do Espírito Santo até a entrada na polícia e sua consolidação com um dos mais importantes homens do Dops. Foram publicadas uma série de reportagens no Jornal do Brasil que desmistificaram a imagem de Guerra, que até então era visto como “defensor da ordem e dos bons costumes”. Foi revelada sua ligação com o crime organizado, a participação em uma ação que culminou na morte de 43 pessoas, entre trabalhadores e lideranças rurais, e acusações de queima de arquivos públicos. “A matéria que escrevi para o JB colocava em jogo essa imagem de justiceiro, combatente do crime. E aí ele cai na esparrela. O governador Max Mauro fez o inquérito e entregou à polícia federal. Ele [Guerra] surge como chefe do crime organizado e em seguida vai preso”, conta Medeiros.
A condenação de Guerra também advém de sua relação estreita com o assassinato do bicheiro Jonathas Borlamarques de Souza em 1982, além de sua ligação com a prática do jogo ilegal. O ex-delegado do Dops é acusado, ainda, de matar sua primeira esposa e ex-cunhada em 1980, crime pelo qual ele alega inocência até hoje e cuja condenação continua em aberto.