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Romeu e Julieta -William Shakespeare
A Cartomante -Machado de Assis
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Dom Casmurro -Machado de Assis
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Catálogo de Autores Brasileiros com a Obra em Domínio Público -Fundação Biblioteca Nacional
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quinta-feira, 28 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
A Revolta dos Malês
Os 170 anos da Revolta dos MalêsEm 25 de janeiro de 1835, explodiu uma das mais importantes rebeliões de negros e negras da história do país: a Revolta dos Malês.
Praticamente omitida pela historiografia oficial, a Revolta é uma lição de garra e luta pela liberdade. Mas também da perversidade das elites dominantes.
Walter Bernardino e Karina Correia, da Sec. de Negros e Negras de Recife (PE)
Uma explosão pela liberdade e contra a intolerância. A Revolta foi planejada por um grupo de africanos muçulmanos — negros de origem haussa e nagô, chamados de malês, devido ao fato de que, em ioruba, muçulmano é imale — formado, dentre outros, por Ahuma, Pacífico Licutan , Luiza Mahin, Aprício, Pai Inácio, Luís Sandim, Manuel Calafate, Elesbão do Carmo, Nicoti e Dissalu.
A data escolhida, o amanhecer de 25 de janeiro, coincidia com um dia importante do ponto de vista religioso: o fim do mês sagrado muçulmano, o Ramadã, e dos tradicionais festejos religiosos dedicados a Nossa Senhora da Guia, que manteriam ocupados os católicos.O objetivo da conspiração era libertar seus companheiros islâmicos e negros em geral e matar brancos e mulatos considerados traidores.
Uma meta que traduzia a complexa combinação entre escravidão negra e perseguição religiosa, imposta pelos colonizadores católicos.Dois aspectos singulares influenciaram todo o processo. Em primeiro lugar, diferentemente da grande maioria dos negros (que compunham mais da metade dos cerca de 20 mil habitantes de Salvador) os malês sabiam ler e escrever em árabe. Além disso, boa parte dos líderes da Revolta, era formada por “negros de ganho” (escravos que faziam serviços urbanos, artesanato ou vendas, recebendo algo por isso) o que não só facilitava sua circulação pela cidade, mas também possibilitou que muitos deles comprassem sua alforria e, nos meses que anteriores à Revolta, adquirissem armas.
Nos dias que antecederam o levante, notícias davam conta de uma intensa movimentação, sobretudo de escravos vindos do Recôncavo Baiano para Salvador. Viriam unir-se ao líder Ahuma, que havia sido preso e estava sendo brutalmente castigado. Além disso, o respeitado Alufá Pacífico Licutan, vítima de constantes maltratos por parte de seu “senhor”, também encontrava-se preso na cadeia municipal.
É certo que as agressões sofridas por esses dois mestres foi o estopim para por em prática a revolta há muito planejada.O número de pessoas envolvidas na preparação da rebelião (entre libertos, escravos, islâmicos e gente que professa outras religiões) varia de acordo com a documentação entre 600 e 1.500, a grande esmagadora deles nascidos na própria África.Traição e massacreAntes mesmo de eclodir a Revolta foi denunciada por uma negra ao juiz de paz. A polícia invadiu, na noite de 24 de janeiro, a residência de Manuel Calafate, um dos locais de encontros e reuniões de africanos de fé islâmica. Resistindo à polícia, partiu dali um grupo de escravos que tentou assaltar a cadeia, ainda então instalada na parte baixa do prédio da Câmara Municipal.
Outro grupo procurou avisar escravos e libertos malês que trabalhavam nas residências de cônsules e comerciantes estrangeiros. Reuniram-se cerca de 50 a 60 homens armados com pistolas, lanças, espadas e facas. Foram esses os que, primeiro, combateram com a polícia e atacaram o quartel que controlava a cidade.De forma desorganizada, a Revolta tomou a cidade, mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos, acabou sendo massacrada pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
Durante os confrontos, morreram cerca de 70 negros e aproximadamente 10 soldados das forças repressoras. Com a derrota, centenas foram presos, sendo condenados à deportação (muitos para a África, algo até então inédito no Brasil), a brutais castigos ou à pena de morte. Na seqüência do evento, instalou-se na Bahia, sobretudo em Salvador e Santo Amaro, a mais generalizada e cruel repressão contra os escravos que estendeu a perseguição a outros malês. O temor provocado pela rebelião foi tamanho que a corte imperial proibiu a transferência de qualquer escravo baiano para qualquer outra região do país.
Uma intifada negraMuitas vezes apontada como uma rebelião de caráter puramente religiosa, a Revolta, na verdade, foi muito mais complexa. Como lembra João José Reis, autor Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, em uma entrevista publicada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ``com o risco do anacronismo, diria que a revolta estava mais para Intifada do que para Jihad, embora a guerra santa tenha sempre algum lugar no coração de um muçulmano que se rebela``.Além disso, o processo só pode ser entendido dentro do quadro de rebeliões negras que sacudiam a Bahia, desde o início do século em sucessivos levantes (1807, 1809, 1813, 1826, 1828 e 1830), envolvendo as mais diversas etnias e grupos.
Em relação à predominância dos malês, favorecida pelos aspectos mencionados acima, também é importante lembrar que vários documentos apontam para o fato de que eles viam os demais negros como aliados em potencial.Acima de tudo, apesar de derrotada, a Revolta serviu como inspiração fundamental para as lutas contra a escravidão, não só pelo exemplo que forneceu, mas também pelo envolvimento de muitos de seus líderes e participantes, como Luiza Mahin (veja abaixo) em outros processos.
Uma lição que para nós, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU, continua viva na necessidade de travar uma luta sem tréguas contra o racismo, toda forma de intolerância e, particularmente, contra o sistema que alimenta estas práticas. O colonial, no passado; o capitalista, na atualidade.Luíza Mahin: mulher guerreiraEsta africana guerreira teve importante papel na Revolta dos Malês.
Pertencente à etnia jeje, alguns afirmam que ela foi transportada para o Brasil, como escrava; outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830 deu a luz a um filho, Luis Gama, que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista e escreveria as seguintes palavras sobre sua mãe: ‘‘Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã’’.Luiza Mahin foi uma mulher inteligente e rebelde. Sua casa tornou-se quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX, dentre elas a chamada Grande Insurreição, de 1835.
Luiza conseguiu escapar da violenta repressão desencadeada pelo Governo da Província e partiu para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para a África.
Discussão sobre o Racismo - O Brasileiro é ou não racista?
Texto da jornalista e doutorando em história, Sílvia Capanema P. de Almeida, que irá nos ajudar muito sobre as discussões em sala de aula.
Não deixem de ler, pois é muito esclarecedor.
Somos ou não somos Racistas?Eis a questão que desafia legisladores, intelectuais, cientistas e historiadores há mais de um século, em uma nação que é tão mestiça quanto desigual. (por Sílvia Capanema P. de Almeida)
Não deixem de ler, pois é muito esclarecedor.
Somos ou não somos Racistas?Eis a questão que desafia legisladores, intelectuais, cientistas e historiadores há mais de um século, em uma nação que é tão mestiça quanto desigual. (por Sílvia Capanema P. de Almeida)
O jornalista e cientista social Ali Kamel publicou o livro Não somos racistas (Nova Fronteira). Trata-se, como o subtítulo indica, de "uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor". O livro defende a idéia de que compomos uma nação predominantemente mestiça e que o racismo existe como manifestação minoritária e não institucional, sendo a pobreza o principal problema do país.
Pretende criticar as reivindicações do movimento negro e os projetos de adoção de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras.Do outro lado do debate, há vozes que defendem a tese de que o elogio da mestiçagem brasileira tem caráter ideológico, tendendo a esconder o racismo existente no país e a exclusão do negro ao longo dos cinco séculos de formação do Brasil. Esse é o pensamento do antropólogo Kabengele Munanga em seu Rediscutindo a mestiçagem no Brasil (Autêntica, 2004) Para se situar nessa discussão, seria interessante compreender o contexto dos períodos anterior e posterior à abolição.
O processo de abolição não pode ser resumido ao 13 de maio de 1888. Por trás da data histórica, o comportamento da população negra no país mostra a existência de uma realidade muito mais complexa. Por um lado, antes mesmo da abolição, ser negro já não significava mais exatamente ser escravo. Pesquisas recentes apontam que apenas 5% do total da população negra ou parda do país era escrava às vésperas da extinção da escravidão.
O grande número de alforrias por reconhecimento, laços pessoais e familiares, compras, entre outros fatores, mostrava que já havia muitos negros e mestiços vivendo além da escravidão, principalmente no meio urbano. Além disso, as fugas e formações de quilombos, muitos dos quais apoiados pela população pró-abolição, também já contribuíam para uma relativização da identificação do negro como escravo nos últimos anos do império. Um sujeito de cor negra ou parda poderia ser escravo, mas também livre ou liberto, como indicam as categorias dos censos do período.
Por outro lado, a tão famosa Lei Áurea assinada pela princesa Isabel não significou a igualdade em termos de inclusão e cidadania para negros e ex-escravos, ainda que as diferenças não fossem registradas pela legislação, pelos códigos e regulamentos institucionais de maneira geral a partir dessa data. Para muitos negros, pardos e outros, o lugar social marcado inicialmente pela escravidão não seria modificado em pouco mais de um século e algumas gerações. Na ausência de qualquer programa de integração dessa população pobre e praticamente analfabeta, boa parte desse contingente de cidadãos e seus herdeiros permaneceu excluída dos bens materiais e culturais durante muitos anos.
Depois do 13 de Maio, muitas famílias continuaram como mão-de-obra nas mesmas fazendas onde tinham sido escravas. Alguns indivíduos migraram para os grandes centros urbanos, em muitos casos reforçando o número de subempregados ou "desocupados", segundo a terminologia da época, e lotando os cortiços e favelas que se formavam nas cidades. Alguns outros adquiriram consciência da sua condição e associaram-se para denunciar a situação e defender seu lugar na sociedade, como no caso da Guarda Negra, espécie de milícia que procurava proteger a liberdade dos negros e a personalidade da princesa Isabel, e da imprensa de identidade negra, que denunciava o problema e funcionava como um espaço de sociabilidade para essa população. Posteriormente, já nos anos 30, a fundação da Frente Negra Brasileira (FNB) iria politizar a discussão, buscando um espaço para o negro na esfera política.
Tudo isso indica que havia mais diversidade do que se acreditava na inserção do negro na sociedade brasileira do pós-abolição. Esse passado de escravidão iria marcar também o debate em torno da construção da nação e do Estado brasileiro. Já em meados do século XIX, intelectuais, legisladores e cientistas mostraram-se preocupados com o perfil e a composição da sociedade brasileira, e com os modelos e projetos possíveis para a construção do país.Muitas das construções institucionais iniciadas com d. João VI e d. Pedro I foram incrementadas no Segundo Reinado. D. Pedro II era um monarca ilustrado e incentivador das artes e da ciência, tendo certa vez afirmado, parodiando o rei absolutista francês Luís XIV, "a ciência sou eu".
Nesses governos, sobretudo após a independência, foram criados institutos de estudo e expandidas as universidades e academias, lugares onde se debatia sobre qual seria o projeto de sociedade possível e desejado no Brasil. Apesar da resistência de alguns setores, o fim da escravidão era tido como inexorável.
Vários aspectos podem ser apontados como tendo contribuído para esse fim: as pressões internacionais, o fortalecimento do capitalismo industrial e a necessidade de mão-de-obra livre e consumidora, as idéias igualitárias oriundas do pensamento iluminista, a própria ação dos escravos, que manifestaram diferentes modos de resistir, por meio das fugas, dos quilombos e das revoltas durante todo o século XIX e em várias partes do mundo.
A título de exemplo, a revolta de negros escravos que massacraram seus senhores tomando o poder na colônia francesa de São Domingos, hoje Haiti, ainda no início do século XIX, apavorava o imaginário dos grandes proprietários brasileiros. Definitivamente, as elites brasileiras não gostariam que o Haiti fosse aqui.
Além disso, pode-se dizer que extinguir a escravidão era uma exigência do mundo dito civilizado e corresponder a essa demanda seria fundamental para colocar o Brasil no ritmo do progresso, de acordo com os conceitos da época.As negociações entre os interesses de diferentes setores fizeram a abolição ser fruto de um processo gradual. Uma lei de extinção do tráfico foi assinada já em 1831, a partir de uma exigência inglesa. Porém, não chegou a ser aplicada, tendo surgido daí a expressão "para inglês ver".
O tráfico só seria abolido de maneira efetiva em 1851, com a lei Eusébio de Queirós. Com o fim desse comércio, a grande mudança no país foi a acentuação do tráfico interno. Tornou-se mais comum do que nunca a venda de escravos das fazendas do Nordeste para o Sudeste cafeeiro, acompanhando o deslocamento do eixo da economia para essa região. Em 1871, foi promulgada a Lei do Ventre Livre, e, apesar do caráter moderado desta, os fazendeiros perceberam que não nasceriam mais escravos no Brasil.
A escravidão estava com os dias contados. O "problema" da integração do negro na sociedade brasileira apenas começava. Seria o Brasil um país de negros e mestiços? Será que isso combinaria com a noção de país civilizado de padrão europeu que se pretendia para a ex-América portuguesa? Essas eram algumas questões sobre a identidade brasileira que intelectuais, médicos e cientistas sociais se colocavam no fim do século XIX e início do XX. O pensamento dominante na época era fortemente influenciado pelo evolucionismo e pela teoria de seleção natural de Charles Darwin.
Esse biólogo britânico, observando o comportamento das espécies animais, desenvolveu uma teoria que explicava a modificação e evolução das espécies por meio de um processo de melhor adaptação ao meio, que seria sintetizada pela expressão "a lei do mais forte". Seu trabalho teve grande influência no pensamento moderno, sobretudo no que se refere à secularização, exterminando a idéia de que o homem teria sido criado por Deus. Porém, para alguns outros homens de ciência daquele tempo, o evolucionismo poderia também se aplicar ao comportamento humano, o que foi chamado de darwinismo social. Segundo as mais expressivas concepções dessa corrente, não somente o negro tende a ser visto como ser inferior ao branco na escala da evolução como o mestiço apresenta em si um problema. Alguns pensadores do darwinismo social chegaram a insinuar que o mestiço seria também infértil. Daí a origem da palavra mulato, termo oriundo de "mula", híbrido nascido do cruzamento do cavalo com o jumento.
A explicação ideológica para isso seria a tentativa de desestimular as relações inter-raciais. No contexto brasileiro, a hibridação seria inevitável. Como a historiografia demonstra, o número de mulheres brancas vindas para o território brasileiro foi sempre inferior ao de homens, sendo a mestiçagem conseqüência disso. Seria preciso que os nossos cientistas e intelectuais pensassem em outros modelos.Dentro dessa concepção, um dos primeiros a tentar identificar, qualificar e diagnosticar o elemento afro-brasileiro foi o escritor, sociólogo e jurista Sílvio Romero, que entendia que o destino da população brasileira era tornar-se branca, já que na mestiçagem o tipo racial mais numeroso tende a prevalecer.
Romero acreditava que o branco seria favorecido pelo fim do tráfico e pelo aumento da imigração de trabalhadores europeus. Outro brasileiro que se dedicou à questão nesse contexto, o médico e antropólogo Raimundo Nina Rodrigues, discordou da tese de Romero. Para ele, não seria possível estabelecer no Brasil uma civilização a partir da mistura entre o branco, o negro e o índio. Estes últimos eram tipos inferiores e não poderiam contribuir para tal ideal civilizacionista. Nina Rodrigues acreditava que a mistura entre raças diferentes criaria indivíduos fracos, que não se identificariam com o modo de viver de nenhuma das duas raças, gerando um tipo inferior. Acreditava que o Estado deveria legitimar as diferenças, para tratar de maneira mais adaptada "superiores" e "inferiores".Essas propostas não foram utilizadas pela República, na Constituição de 1891 e nos Códigos Civil e Penal da época, que não faziam mais distinções entre "negros", "brancos" ou "pardos". Todos eram cidadãos. O problema seria a pobreza, a vadiagem, a mendicância e a capoeiragem, contravenções punidas pelos artigos 391 a 404 do Código Penal de 1890. Para o direito brasileiro, não era desejável haver uma população desocupada, sem dinheiro e sem lar.
Os indivíduos nesse estado, muitos dos quais negros ex-escravos ou descendentes de escravos, poderiam ser enviados a diversas instituições, como às colônias correcionais ou mesmo ao Exército e à Marinha. Não foi o pensamento do darwinismo social que vigorou na concepção dessa legislação, mas com certeza estavam presentes as idéias de ordem e em grande parte a mentalidade higienista. Observa-se, além disso, que o estímulo dado pelo governo brasileiro à imigração de trabalhadores europeus no fim do século XIX e início do XX foi em grande parte justificado pela ideologia de branqueamento da população.
Nos anos 30, enquanto as idéias eugenistas voltavam à moda na Europa, sobretudo a partir da experiência do nazismo alemão, no Brasil tendia-se para uma nova compreensão da sociedade, para uma abordagem culturalista. Já havia uma corrente de valorização do mestiço como representante da identidade brasileira desde a década de 1870, porém seria com o sociólogo Gilberto Freyre que esse modo de pensar ganharia maior expressão.Em seu clássico Casa-grande e senzala, Gilberto Freyre compõe uma história social e cultural do Nordeste agrário e escravista durante o início do período colonial, o que corresponde à fase de predomínio da economia açucareira.
Nesse contexto, o menor número de mulheres e o caráter conciliador do colonizador português favoreceram o desenvolvimento da mestiçagem no país, diminuindo a distância entre a casa-grande e a senzala. O mulato seria o elemento de conciliação entre os extremos existentes. Além disso, Gilberto Freyre aposta na mestiçagem como o principal traço da identidade brasileira, fazendo uma leitura positiva da hibridação. Estão lançadas as bases para a ideologia da "democracia racial", posteriormente apontada como um mito pelas releituras de Gilberto Freyre.Esse pensamento parece ter sido bem aceito pelo Estado e pela população brasileira.
Ao mesmo tempo que a idéia de democracia racial foi incorporada pelo senso comum e colaborou para a construção da própria identidade nacional, o Estado e as instituições receberam com boa vontade essa teoria. A crença numa contribuição igualitária do índio, do negro e do branco participa do mito fundador do Brasil. Além disso, essa igualdade também favorece o estabelecimento do Estado brasileiro que sempre se desejou: sob a impressão de que há igualdade entre as cores e diferenças, cria-se um código comum, evitando-se conflitos e embates. Dessa forma, o Brasil se parece mais com aquilo que gostariam que fosse, já sabendo como ele é.Ser negro, preto, pardo, moreno, corado no Brasil. O conceito de raça para o ser humano foi desmontado por cientistas e geneticistas nos últimos anos. Não se pode dizer raça num sentido científico, mesmo que a palavra ainda exista para o senso comum ou para alguns movimentos reivindicatórios. Todavia, ainda é aplicada uma categorização pela cor.
Para o IBGE, atualmente podem ser chamados de negros os cidadãos de cor preta ou parda que se identifiquem como negros. Mas não foi sempre assim.O trabalho da historiadora Ivana Stolze Lima demonstra que no Brasil imperial os censos e outras iniciativas de conhecimento demográfico encontraram dificuldades para se concretizar justamente porque questões relativas à cor e à condição da população brasileira eram problemáticas. Os censos apareceram como uma iniciativa do governo, inserida no espírito do tempo e nas tentativas de categorizar e conhecer típicas de meados do século XIX. Contudo, no início houve resistência da população, que receava um controle do Estado em suas vidas. Temia-se que os censos acarretassem tentativas de re-escravização ou de aumento de impostos.
Os censos praticamente não funcionaram no período, quase não tendo valor estatístico para um estudo populacional. Porém, têm grande valor qualitativo, bem como outros documentos tais quais registros de batismos e casamentos. Nesses registros, sempre aparece a categoria "branco", sendo a população dividida em homens e mulheres. Para os negros, há outras subcategorias, como a de escravo, livre, liberto, negro ou pardo. O termo mulato aparece em menor ocorrência, mas sempre substituindo o termo pardo.
O censo geral do império, em 1872, buscava categorizar a população quanto a "raças", admitindo também a categoria "caboclos", além de "branco", "pardo" e "preto". Porém, em outros documentos oficiais, começa-se a omitir a categoria "cor" a partir de meados do século XIX, o que indica, mais uma vez, que esse critério poderia causar constrangimento e que já não havia mais uma relação de "sinonímia entre ser branco e ser livre".No início do século, instituições como a Marinha contavam com grande participação de negros e mestiços. Na primeira iniciativa de identificação, com a criação do Gabinete de Identificação da Marinha em 1908, consta que 71% dos identificados como soldados navais naquele ano eram classificados como negros ou pardos, havendo 27% de brancos, dentre os quais brancos "claros" ou "corados". Essas identificações não eram fixas, no entanto.
Um mesmo indivíduo identificado duas vezes, em 1908 e 1912, poderia passar de "negro" para "pardo" ou "moreno", ou vice-versa, de acordo com os critérios do classificador do dia. Da mesma forma, dentre os brancos, alguns soldados poderiam ser identificados como "branco corado" ou "moreno corado". A categoria "mulato" não aparece citada. Isso indica que a questão da cor não era assim tão fácil de ser identificada no Brasil do início do século XX.Mais recentemente essa dificuldade foi novamente comprovada. Um levantamento feito pelo historiador Clóvis Moura, após o censo de 1980, indica que foram citados 136 nomes de cores diferentes pelos brasileiros inquiridos. Alguns brasileiros declararam ter cor "acastanhada", "café-com-leite", "branca-suja", "burro-quando-foge", "cor-de-canela", "cor-de-cuíca", "sapecada", dentre muitas outras. Segundo o autor, essa pluralidade atestaria, mesmo que por meio do humor, que o brasileiro foge de uma identificação étnica.
Outra pesquisa recente, elaborada pela equipe do geneticista Sérgio Pena no início da década, comprova que 87% dos brasileiros receberam ao menos 10% de genomas africanos. Ao mesmo tempo, os mesmo índices de ancestralidade genômica indígena ocorrem somente em 24% dos brasileiros. Segundo os resultados da pesquisa, há mais sangue negro do que indígena correndo nas veias dos brasileiros, e a mestiçagem seria um fato comprovado. Mais do que isso, o estudo prova que tanto intelectuais quanto cientistas ainda estão muito interessados no assunto.
Saiba MaisCores, marcas e falas: sentidos da mestiçagem no Império do Brasil. Ivana Stolze Lima. Arquivo Nacional, 2003.
Não somos racistas: uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor. Ali Kamel. Nova Fronteira, 2006.
Negros e política (1888-1937). Flávio Gomes. Jorge Zahar, 2005.
O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930.
Lilia Moritz Schwarcz. Cia. das Letras, 1993.
Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Kabengele Munanga.
Autêntica, 2004.Sílvia Capanema P. de Almeida é jornalista e doutoranda em história na EHESS, Paris. Ensina na Universidade de Paris X, Nanterre.
História Geral da África - Coleção completa.
Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.
Resumo: Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Download gratuito (somente na versão em português):
Volume I: Metodologia e Pré-História da África (PDF, 8.8 Mb)
ISBN: 978-85-7652-123-5
Volume II: África Antiga (PDF, 11.5 Mb)
ISBN: 978-85-7652-124-2
Volume III: África do século VII ao XI (PDF, 9.6 Mb)
ISBN: 978-85-7652-125-9
Volume IV: África do século XII ao XVI (PDF, 9.3 Mb)
ISBN: 978-85-7652-126-6
Volume V: África do século XVI ao XVIII (PDF, 18.2 Mb)
ISBN: 978-85-7652-127-3
Volume VI: África do século XIX à década de 1880 (PDF, 10.3 Mb)
ISBN: 978-85-7652-128-0
Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 (9.6 Mb)
ISBN: 978-85-7652-129-7
Volume VIII: África desde 1935 (9.9 Mb)
ISBN: 978-85-7652-130-3Caso não consiga copie e cole na barra de Endereço
http://www.unesco.org/pt/brasilia/dynamic-content-single-view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese/back/9669/cHash/d6c86ae49c/
http://www.unesco.org/pt/brasilia/dynamic-content-single-view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese/back/9669/cHash/d6c86ae49c/
Resumo: Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Download gratuito (somente na versão em português):
Volume I: Metodologia e Pré-História da África (PDF, 8.8 Mb)
ISBN: 978-85-7652-123-5
Volume II: África Antiga (PDF, 11.5 Mb)
ISBN: 978-85-7652-124-2
Volume III: África do século VII ao XI (PDF, 9.6 Mb)
ISBN: 978-85-7652-125-9
Volume IV: África do século XII ao XVI (PDF, 9.3 Mb)
ISBN: 978-85-7652-126-6
Volume V: África do século XVI ao XVIII (PDF, 18.2 Mb)
ISBN: 978-85-7652-127-3
Volume VI: África do século XIX à década de 1880 (PDF, 10.3 Mb)
ISBN: 978-85-7652-128-0
Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 (9.6 Mb)
ISBN: 978-85-7652-129-7
Volume VIII: África desde 1935 (9.9 Mb)
ISBN: 978-85-7652-130-3Caso não consiga copie e cole na barra de Endereço
http://www.unesco.org/pt/brasilia/dynamic-content-single-view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese/back/9669/cHash/d6c86ae49c/
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Documentário desvenda o que tem na nossa comida: substâncias químicas.
Pessoal, não deixem de assistir o documentário Food, Inc. que trata a respeito da qualidade da comida que consumimos, ou seja, agrotóxicos, conservantes e outros venenos.
http://www.youtube.com/watch?v=71TXR2Adx4E&playnext=1&list=PL9F5FE14B7E660FAC
Após acessar, caso não apareça a legenda em português, favor acionar a tecla (cc) que fica embaixo da tela.
Depois de assistir dê sua opinião, você é a favor ou contra o uso de agrotóxicos, justifique sua resposta.
obs: não precisa ver todas as partes do video, pois com apenas uma ou duas partes já terá informações suficientes para uma análise.
Porém, em outra oportunidade sugiro que assista inteiro, poderá ser utilizado em suas aulas no futuro.
(David Pereira)
http://www.youtube.com/watch?v=71TXR2Adx4E&playnext=1&list=PL9F5FE14B7E660FAC
Após acessar, caso não apareça a legenda em português, favor acionar a tecla (cc) que fica embaixo da tela.
Depois de assistir dê sua opinião, você é a favor ou contra o uso de agrotóxicos, justifique sua resposta.
obs: não precisa ver todas as partes do video, pois com apenas uma ou duas partes já terá informações suficientes para uma análise.
Porém, em outra oportunidade sugiro que assista inteiro, poderá ser utilizado em suas aulas no futuro.
(David Pereira)
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Dê sua opinião - Campanha contra bullying.
O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp) pretende começar uma campanha contra o bullying.
A inteção é instruir profissionais da educação e alunos.
A campanha será ampla e permanente. Inclusive no site da entidade será realizada uma enquete com os professores para saber quantos foram vítimas de bullying.
Alguns promotores da Infância e da Juventude de São Paulo almejam a criminalização do bullying, com pena mínima de um a quatro anos de reclusão.
Gostaria de saber a opinião de vocês professores sobre a campanha e a criminalização do bullying.
(Michele Barros)
Dê sua opinião - Dia do Exército Brasileiro.
No dia 19 de abril de 2011, a presidenta Dilma Rousseff participou das comemorações ao Dia do Exército, em Brasília. Dilma condecorou personalidades e autoridades civis e militares.
Encaminhou uma mensagem a ser lida em seu nome durante o evento, seguinto o protocolo da solenidade.
Na nota, lembrou do patriotismo, profissionalismo e dedicação da instituição Exército Brasileiro.
Como sabemos, a presidenta Dilma já admitiu sua filiação às organizações guerrilheiras durante o regime militar.
Assim, como vocês avaliariam a participação da presidenta durante o evento.
(David Pereira)
terça-feira, 19 de abril de 2011
As novas tecnologias desafiando os educadores e modificando o processo de ensino-aprendizagem
(textos de Moran e Sáez)
O desafio dos educadores na atualidade é buscar maneiras de implementar o processo de ensino-aprendizagem utilizando as novas tecnologias. As mídias existentes anteriormente, como a televisão, foram introduzidas nas salas de aula de forma inadequada. Pouco contribuindo para as mudanças educacionais almejadas. Os avanços tecnológicos possibilitaram ampliar o campo de aprendizado. É possível aprender em espaços distintos e de forma diversificada. As redes de comuniação social ampliaram a dinâmica das salas e do ensino ministrado. Hoje o professor precisa administrar ensinos à distância, mesclados a atividades presenciais, dinamizando sua rotina educacional. Toda infraestrutura que as novas tecnológias trazem devem possibilitar uma mudança na postura dos educadores. O professor deixa de ministrar “conteúdos mastigados” e passa a organizar todas as inúmeras informações trazidas pelo educando.
(Síntese do texto produzido por Michele Barros)
(Síntese do texto produzido por Michele Barros)
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Práticas e Instituições Religiosas.
Aluna: Michele Barros
Ensaio realizado para disciplina História Social através das práticas e instituições religiosas.
"Aqui estão os sacerdotes; e muito embora sejam meus inimigos...meu sangue está ligado ao deles."1
Assim Falou Zaratustra
Friedrich Nietzsche
Ao falarmos em História Social através das práticas religiosas, dificilmente conseguiríamos dissociar essa análise de questionamentos como, o que é religião? Qual sua importância social? Como se originou as diversas manifestações religiosas praticadas pelo mundo? Estas são algumas entre tantas outras indagações a qual um tema tão complexo e polêmico poderia suscitar.
Relacionando a frase acima, contida em "Assim falou Zaratustra", às inúmeras práticas religiosas existentes, podemos a princípio compreender o importante papel sócio-político que as religiões e suas organizações possuem. Ao introduzir esta frase as falas de Zaratustra, Nietzsche mostra-nos que mesmo não concordando com a hierarquização da religiosidade, é impossível menosprezar o poder exercido por essas instituições em nossa vida cotidiana. Independente de praticarmos, ou não, um culto religioso especifico. Com isso necessitamos analisar o que vem a ser religião, e qual motivo nos leva a atribuir-lhe tanto significado.
No livro, "O Que é Religião?", Rubem Alves enfoca a abordagem da Religião como expressão inerente ao ser humano. Analisa dos primórdios da antiguidade, passando pela religiosidade que caracteriza a Idade Média até o mundo secularizado da era contemporânea. O autor inicia seu texto descrevendo a "mentalidade religiosa" predominante no imaginário de um mundo que se pensava sagrado.
Houve tempo em que os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros. Tão raros que os mesmos se espantavam com sua descrença e a escondiam, como se ela fosse uma peste contagiosa. E de fato era, tanto assim que não foram poucos os que foram queimados na fogueira, para que sua desgraça não contaminasse os inocentes. Todos eram educados para ver e ouvir coisas do mundo religioso, e a conversa cotidiana, este tênue fio que sustenta visões de mundo, confirmava, por meio de relatos de milagres, aparições, visões, experiências místicas, divinas e demoníacas, que este é um universo encantado e maravilhoso no qual, por detrás e através de cada coisa e cada evento, se esconde e revela um poder espiritual. 2
Estamos diante de uma visão sagrada da existência humana, na qual se pensar e viver somente a vida temporal, o mundo profano, é considerado pecado gravíssimo. Não há outra realidade fora dos limites do universo religioso.
O canto gregoriano, a música de Bach, as telas de Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel, a catedral gótica, a Divina Comédia, todas estas obras são expressões de um mundo que vivia a vida temporal sob a luz e as trevas da eternidade. 3
Todavia, Rubem Alves identifica que houve um rompimento nessa visão sacralizada ao observar como o misticismo que caracterizava o mundo medieval, e outras épocas históricas, deixa de conduzir o cotidiano das sociedades, parte de suas instituições e o dia-a-dia de seus indivíduos.
Mas alguma coisa ocorreu. Quebrou-se o encanto. O céu, morada de Deus e seus santos, ficou de repente vazio. Virgens não mais apareceram em grutas. Milagres se tornaram cada vez mais raros, e passaram a ocorrer sempre em lugares distantes com pessoas desconhecidas. A ciência e a tecnologia avançaram triunfalmente, construindo um mundo em que Deus não era necessário como hipótese de trabalho. Uma das marcas do saber científico é o seu rigoroso ateísmo metodológico: um biólogo não invoca maus espíritos para explicar epidemias, nem um economista os poderes do inferno para das contas da inflação, da mesma forma como a astronomia moderna, distante de Kepler, não busca ouvir harmonias musicais divinas nas regularidades matemáticas dos astros.4
O mundo na contemporaneidade tornou-se secularizado. Não há mais necessidade de recorrer a uma divindade, a um Deus soberano e autoritário para realizar as mais elementares atividades.
O homem controla seu destino, determinando os rumos de sua vida, ou seja, a extrema religiosidade, comum há outros tempos, passa a fazer parte da realidade de grupos isolados. A industrialização, as descobertas e avanços tecnológicos, a sofisticação da Cultura; enfim, todas as realizações atribuídas à modernidade distanciam o mundo sagrado do profano.
Contudo, Alves afirma não ser possível extirpar a religião simplesmente deixando-a em segundo plano. Afinal, nos momentos de dor e desespero, em que os recursos materiais disponíveis não aliviam o sofrimento, a necessidade de consolo divino costuma se manifesta fortemente.
O que ocorre com freqüência é que as mesmas perguntas religiosas do passado se articulam agora, travestidas, por meio de símbolos secularizados. Metamorfoseiam-se os nomes. Persiste a mesma função religiosa. Promessas terapêuticas de paz individual, de harmonia íntima, de liberação da angústia, esperanças de ordens sociais fraternais e justas, de resolução das lutas entre os homens e de harmonia com a natureza, por mais disfarçadas que estejam nas máscaras do jargão psicanalítico/psicológico e sociais em torno dos quais foram tecidas as teias religiosas. Se isto for verdade, seremos forçados a concluir não que o nosso mundo se secularizou, mas antes que os deuses e esperanças religiosas ganharam novos nomes e novos rótulos, e os seus sacerdotes e profetas novas roupas, novos lugares e novos empregos.5
Rubem Alves chega a constatação de que pertencer a uma sociedade secular não diminui as "necessidades religiosas" individuais, pois elas continuam as mesmas de antes. Afinal, a mudança ocorreu apenas na nomenclatura dos símbolos e ritos religiosos, evidenciando o significado que a Religião, ou a fé sobrenatural, exerce na vida de todos, direta ou indiretamente. Ou seja, embora muitos proclamem sua irreligiosidade, o que observamos de fato é que estamos inseridos em um mundo no qual a Religião tem papel fundamental, sendo uma decisão pessoal acreditar e aderir a esta religiosidade.
[...] Mas é necessário reconhecê-la como presença invisível, sutil, disfarçada, que se constitui num dos fios com que se tece o acontecer do nosso cotidiano. A religião está mais próxima de nossa experiência pessoal do que desejamos admitir. [...] 6
Para concluir a importância conferida a religião e os estudos a ela direcionados, Rubem Alves utiliza-se de uma frase de Ludwig Feuerbach que diz: "A consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento. A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor." 7
Neste contexto, considerando a afirmação de Feuerbach acerca do conhecimento de Deus ser autoconhecimento e autoconsciência, pode-se presumir que a religião é imprescindível a existência humana, pois, levando em conta o significado da palavra religião - do latim religare - ela religa a criatura ao criador.
Portanto, nos "ligando" ao criador estamos tomando consciência de quem somos, e assim, damos sentido à nossa vida. As diversas manifestações religiosas; todos os símbolos, ritos e costumes praticados em nome de Deus, Alá, ou tantas outras divindades, são representações dessa busca por união.
Mircea Elias no clássico da historiografia das religiões, "O Sagrado e o Profano", desvenda os mistérios em torno dos símbolos, ritos e tradições envolvendo as mais diversas religiões existentes. Compreender alguns aspectos dessa "simbologia religiosa" nos ajudará a perceber como a religião dá significado à nossa vida, se utilizando de elementos comuns ao nosso cotidiano.
Assim, neste livro Eliade nos apresenta uma descrição comparada das religiões (desde as mais arcaicas) e procura demonstrar a evolução, origem e forma primeira da experiência religiosa do homem. No prefácio já podemos observar exemplos de como alguns povos na Antiguidade relacionaram os "mitos de origem" à explicação do divino, sendo essa visão comum a todas as religiões praticadas.
Segundo os estóicos, os mitos revelam visões filosóficas sobre a natureza profunda das coisas, ou encerravam preceitos morais. Os múltiplos nomes dos deuses designavam uma só divindade, e todas as religiões exprimiam a mesma verdade fundamental: só variava a terminologia.8
Em outro trecho, o autor nos revela o pensamento do filósofo grego Plutarco acerca da semelhança simbólica entre as religiões. Segundo Plutarco, a diversidade das formas religiosas é apenas aparente: os simbolismos revelam a unidade fundamental das religiões.9
As afirmações expostas por Eliade, vão de encontro às idéias de Rubem Alves acerca da mudança existir apenas nas nomenclaturas dos símbolos, sem modificar o sentido empregado a eles, ou seja, o que difere uma expressão religiosa de outra é somente a maneira de nomeá-las, não modificando o sentido divino que essas expressões exercem na vida do homem religioso.
Para Mircea Eliade, esse homem religioso que "optou" por uma vida sagrada em opção a uma existência puramente profana (mundana), vivencia as experiências, as expressões religiosas em todas as esferas de sua vida. O espaço sagrado, e tudo que ele representa, são o eixo central sua existência.
A profunda nostalgia do homem religioso é habitar um "mundo divino", ter uma casa semelhante à "casa dos deuses", tal qual foi representada mais tarde nos templos e santuários. Em suma, essa nostalgia religiosa exprime o desejo de viver num cosmo puro e santo, tal como era no começo, quando saiu das mãos do Criador. 10
Para Mircea Eliade, o tempo também participa de toda simbologia religiosa, pois se exprime de maneira diferente na vida do homem religioso. Para o autor há o Tempo sagrado e o Tempo profano. Segundo ele, enquanto o tempo profano segue a duração temporal do cotidiano, tem um começo e um fim; o tempo sagrado recusa-se a seguir a cronologia habitual, viver unicamente no "presente histórico". Procura unir-se há um tempo sagrado que, de certo modo, equipara-se à "Eternidade".
Para o homem religioso, ao contrário, a duração temporal profana pode ser "parada" periodicamente pela inserção, por meios dos ritos, de um Tempo sagrado, não-histórico (no sentido de que não pertence ao presente histórico). [...] Já não é o Tempo histórico atual que é presente – o tempo que é vivido, por exemplo, nas ruas vizinhas -, mas o Tempo em que se desenrolou a existência histórica de Jesus Cristo, o tempo santificado por sua pregação, por sua paixão, por sua morte e ressurreição.11
A Natureza também possui valor sagrado no universo do homem religioso. Afinal, se o universo é Criação Divina, tudo o que nele está contido também o será. Mircea Eliade ao falar sobre a sacralidade da Natureza apresenta o Céu, a Água, a Terra, a mulher, a Árvore, e elementos como a pedra, Lua, Sol, Trevas, como símbolos primordiais para análise da Natureza como algo sagrado.
Isto vem corroborar com a afirmação de que para o homem religioso tudo que existe no universo, desde o tempo até a mais simples atividade humana, são representações da "força divina".
É fácil compreender isto quando se leva em conta o fato de que, para o homem religioso, o Mundo apresenta sempre uma valência supranatural, quer dizer, revela uma modalidade do sagrado. Todo fragmento cósmico é "transparente": seu próprio modo de existência mostra uma estrutura particular do Ser e, por conseqüência, do sagrado. Não se deve esquecer que, para o homem religioso, a sacralidade é uma manifestação completa do Ser. As revelações da sacralidade cósmica são, de certo modo, revelações primordiais, pois tiveram lugar no mais longínquo passado religioso da humanidade e conseguiram resistir às inovações introduzidas posteriormente pela História.12
Para finalizar sua análise, Mircea Eliade compara a existência do homem religioso a do areligioso dizendo que, o religioso está "aberto" a este "mundo divino", em comunicação com os deuses, participando deste universo santificado. Contudo o não religioso também participa deste universo, embora não perceba.
Mas o homem a religioso descende do homo religiosus e, queira ou não, é também obra deste, constitui-se a partir das situações assumidas por seus antepassados. Em suma, ele é o resultado de um processo de dessacralização. Assim como a "Natureza" é o produto de uma secularização progressiva do Cosmo obra de Deus, também o homem profano é o resultado de uma dessacralização da existência humana. Isto significa que o homem a religioso se constitui por oposição a seu predecessor, esforçando se por se "esvaziar" de toda religiosidade e de todo significado trans humano.13
Portanto, tanto Mircea Eliade, como Rubem Alves, concluem que a Religião está presente na vida do homem a religioso, mesmo que ele não perceba ou admita isso. Ambos afirmam que a secularização, ou dessacralização, a qual se submeteu o homem moderno, não modificou a essência religiosa herdada de seus antepassados. Muito embora o mundo contemporâneo tenha se secularizado, e a modernidade pareça retirar deste homem seu "traço divino", o que ocorre de fato, como afirma Eliade, é que a maioria dos "sem religião" ainda se comporta religiosamente, embora não esteja consciente do fato.14
Enfim, a mudança nos hábitos, usos e costumes das sociedades modernas, levou o homem a se acreditar auto-suficiente. O teocentrismo característico de outros tempos deu lugar a um "mundo" egocêntrico, no qual o homem é inteiramente responsável por seu destino. Entretanto, a quantidade de instituições, de divindades e práticas religiosas existentes na atualidade, contrapõe essa mentalidade. Apesar das aparentes mudanças, a humanidade através da religião, ainda tem buscado compreender de onde viemos, e para onde vamos.
Conclusão
Para concluir tomarei emprestado o texto do Pastor Evangélico Ed René Kivitz, no qual podemos encontrar a definição de Religião, melhor dizendo de Fé, a qual se referiu os autores, que abarca todos os seres humanos, independente da prática religiosa ser, ou não, uma constante em nossas vidas. Refiro-me à Fé por acredita que o termo religião nos remete às instituições e toda hierarquia religiosa criada pelo homem. Acredito que toda a sofisticação a qual chegaram essas instituições, inverteu o propósito principal da religião, que é religar-nos a Deus. O texto de Kivitz exemplifica esse distanciamento existente entre Religião, como prática institucionalizada pelo homem, e a Fé, a espiritualidade propriamente dita.
A postagem abaixo refere-se ao episódio envolvendo alguns jogadores do Santos numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, local que cuida de crianças com deficiência cerebral, para entrega de ovos de Páscoa. Uma parte dos atletas, dentre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fábio Costa, se recusaram a entrar na entidade, e preferiram ficar dentro do ônibus do clube, sob alegação de que eram evangélicos e não entrariam num local fundado e dirigido por Espíritas.15
Diz o texto do Pastor: " Os meninos da Vila pisaram na bola, mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles.
O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica na superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento as categorias da religião. A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e de cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para o céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra a prática do homossexualismo, ou mesmo, se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar a favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou ressureição, a teroria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita Kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas uma das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Alá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva de Krishna e devotos de Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir, enquanto outros, se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio, através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. Quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos, no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião. Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade, que a sua religião ensina, ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e a miséria de uma paralisia mental."
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde de pequenininho.
Notas:
1 NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. In: ALVES, Rubem. O que é Religião?.São Paulo: Loyola, 1999. p. 8. Disponível em http://books.google.com.br/books?isbn=851501968X. Acesso em: 02 dez.2010.
2 ALVES, RUBEM. O que é Religião?. São Paulo: Loyola, 1999. Disponível em http://books.google.com.br/books?isbn=851501968X. Acesso em: 02 dez.2010
3 ALVES, op. cit, p. 9 3
4 ALVES, op. cit, p. 9-10 4
5 ALVES, op. cit, p. 12-13
6 Ibidem, idem.
7 Ibidem, idem 5
8 ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 109.
9 ELIADE, op. cit, p. 7 6 10 ELIADE, op. cit, p. 37
11 ELIADE, op. cit, p. 39 7
13 Ibdem, idem
14 Ibdem, idem 9
15 http://pensarpararealizar.blogspot.com/2010
REFERÊNCIAS
ALVES, RUBEM. O que é Religião?. São Paulo: Loyola, 1999. Disponível em http://books.google.com.br/books?isbn=851501968X. Acesso em: 02 dez.2010
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 109.
http://pensarpararealizar.blogspot.com/2010 acesso em: 02 dez.2010
Contribuição da Professora de História Michele Barros.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
O PENSAMENTO HUMANO E A ANÁLISE DO SER LÍTERO
E é na mente do Homem, de enorme vitalidade, que surge o crítico, mesmo sem muita erudição, de pouca intelectualidade, porém, com tamanha fomentação e objetividade, que passa a ser o mais puro voluntário do absurdo, destinado a uma interpretação, que alguns, poucos e revestidos de uma gelidez tamanha, poderiam classificar como...Vazia!!!
Ler?Para que ler então, se nem todos nós somos verdadeiros interpretadores da razão?
Balela!
Se pensarmos que esses tais são os seres enobrecedores de qualquer texto, que dignificam e justificam os rascunhos do mais boçal dos escritores, ou do mais puro deles, embora não os demonstre na carne, seremos o que, ao ler e viver o que lemos? Como podemos definir o restante da humanidade, mesmo que por segundos, ou mesmo, por eras?
Analisar um texto tecnicamente não é tão diferente de operar um corpo, extraindo dele moléstias. Dessecar cenários e fragmentar personagens a fim de dizer como são, e qual a natureza de sua existência é tarefa da mais árdua, e de poucos; louvável e digna também, em se tratando de uma situação lógica de perpetuação textual.
Mas, negar o existencialismo nobre e natural daquele que chora ou que ri, e que mal sabe distinguir a Bela da Fera, é no mínimo um “Ato Vândalo” contra a integridade humana, pois mesmo desprovidos do senso maior e sutil da análise, é assim que “Caminha a Humanidade”, desvelando fronteiras afins.
Que mal há no verso transloucado, na rima pura e barata, se puros nascemos e baratos somos nós e nossos espíritos, até o inesperado dia de partir?
É o nosso legado. Naturalmente curiosos, e capazes de enfrentar tempestades, traições, mortes e tudo o que um texto nos oferece, somente para desbravar a mente calcinante do mais fútil dos escritores.
E quando não somos lógicos ou analíticos, ou menos igual ao mais célebre dos estudiosos; somos um povo simples que ama e que se adapta a tudo o que Lê, a tudo o que pode naquele instante sentir; virando peça crucial de todo o desenrolar do mistério.
Navegam, planam, e caem em desgraça, ou em abismos, só para salvar, ou mesmo, matar, ou amar, se sobrar alguém que olhe aquele rosto sofrido, de verdade e não fictício; feio, horrendo e estilhaçado pelas dores do mundo, e o transforme em Príncipe ou Princesa, só mais uma vez.
Ah, se Henri-Louis Bergson estivesse vivo agora, certamente Eu o indagaria sobre a bela frase: “...Se consciência significa memória e antecipação, é porque consciência é sinônimo de escolha...”.
E se escolhemos, também projetamos ali as nossas vivências, e nos identificamos com as coisas do mundo de lá; dos livros.
O leitor dita as regras, vivendo intensamente cada personagem, extraindo deles um pouco do que quer para si, do que será o seu Eu futuramente. Talvez como tenha sido para o escritor, outrora, em seu passado, às vezes arredio e imundo; certas vezes doentio e profano.
Não são assim as “Crianças que Nunca Querem Crescer”, ou alguém que procura a “Alma do Mundo”, ou mesmo aquele que tem dentro de si o amor acalorado de um ser imaginário, sem defeitos, que não questiona as reivindicações do tempo do leitor?
E cada página vira um mundo à parte, sendo lido e relido por toda a pequenez de uma eternidade na vida de alguém.
Temo que Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nunca tenha falhado. Linguajar cético e análogo sobre o desígnio humano:“...Ah! Dentro de toda a alma existe a prova de que a dor como um dardo se renova quando o prazer barbaramente a ataca...”
E para que analisar se sabemos o quanto sofremos por sermos assim? E se alguns não concordam não é porque o saudoso escritor estava errado e sim por consequência de uma tendência analítica preservada em cada Ser. E por isso, não podemos duvidar da grandeza do mais pobre dos mortais, ao revelar em poucas palavras, a mágica do que existe de mais sólido nas entrelinhas do mundo literário.
Portanto, que viva intensamente qualquer um que se digne a Ler e a interpretar à sua maneira ou pelo amor da sua alma, o que entende. E para os nobres, deixe então a crítica, mais nobre do que o mundo, que faz emergir “sei lá como”, alguns, deixando outros na lama do passado.
Não foi assim com o lusitano Forjaz de Sampaio? Esquecido e ignorado hoje em dia, Forjaz de Sampaio, foi autor de um dos livros mais vendidos do século XX, intitulado “Palavras Cínicas” de 1905, que até a sua morte se encontrava na 46ª edição.
Dele disse o saudoso José Sobral de Almada Negreiros no seu “Manifesto Anti-Dantas”:“...E o raquítico Forjaz de Sampaio, crítico da Luta a que o Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento...”
(...) Albino Maria Pereira Forjaz de Sampaio (1884-1949) começou a sua carreira literária como jornalista no jornal “A Lucta” sob o patronato de Fialho de Almeida e Brito Camacho. O seu percurso teve duas fases distintas, um pouco como a sua escrita. Se de início a sua escrita aprendeu muito do jornalismo, o falar da rua, do submundo lisboeta, a resposta rápida, numa segunda fase da sua carreira procurou legitimar essas suas características como formas arcaicas, coloquialismos de origem erudita que foi encontrar nas suas investigações sobre o antigo teatro popular (...) (PÁGINA DE LITERATURA DO LUSITANO HUGO XAVIER).
Contribuição do meu amigo professor Valência.
Prof. Sergio Valência
Licenciado em Letras pela UNIESP com Cursos de Extensão em Ciência Política pela ALESP, Sociologia e Filosofia pela FGV e Cultura e Globalização pela FESPSP e. Escritor, Poeta, Professor, Palestrante e Pesquisador das Culturas e Tradições Regionais. sergioev@terra.com.br
terça-feira, 12 de abril de 2011
Educadores! Não podemos ficar parados.
Sáez vai dizer que no atual contexto social é importante para se ter uma visão integral o tripé: Tecnologia, Informação e Sistema Social.
Inclusive faz uma analogia entre a importância da Internet para nossa sociedade, e o relógio para a sociedade fordista.
Tem uma análise marxista:
· Tecnofóbicos X Tecnofilica, onde a primeira é avessa a tecnologia, pois destrói a vida social, já os tecnofílicos tecem elogios, como progresso e felicidade.
· visão descontextualizada – vê a tecnologia separada dos processos econômicos e sociais, porém para ele essa visão é ingênua, pois não enxerga que os produtos e processo são ligados, portanto existe um diálogo das inovações e as aspirações sociais.
· visão instrumental – enxerga na tecnologia um instrumento que veio para facilitar, ou seja, um olhar capitalista, produção em menor tempo e melhor qualidade.
Moran possui uma visão crítica, para este autor as tecnologias estão trazendo desafios aos professores e para o ambiente escolar.
O professor tem que se adaptar, buscar conhecimento sobre as novas tecnologias e saber aproveitá-las em seu favor na aplicação do ensino-aprendizagem.
As universidades e escolas, por sua vez, necessitam propiciar aos professores salas de aulas, laboratórios, ambientes virtuais para que os docentes e discentes usufruam das novas ferramentas.
Assim, Moran entende que é Sine qua non os esforços político, econômico e cultural.
(David Pereira)
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Liberdade de expressão durante a ditadura militar (1964-1985).
HISTÓRIA: EDUCAÇÃO, RELAÇÕES SOCIAIS E CULTURA
ALUNO: David Pereira1
Artigo: Liberdade de expressão durante a ditadura militar (1964-1985).
Trabalho realizado para a disciplina de Intersecções entre História e Arte, sob a responsabilidade da Profa. Ms. Angélica Höffler.
RESUMO
Este artigo tem a finalidade de mostrar como músicos e artistas tentaram burlar a censura denunciando as torturas e a falta de liberdade de expressão imposta pela Ditadura Militar (1964-1985) ocorrida no Brasil. Também mostra como a época redefine o comportamento de uma população. Porém é salutar lembrarmos que não é um processo ameno, durante o período estudado existiu muita resistência por parte de muitos que lutaram contra determinações que vinham de cima para baixo, manifestando-se através de seus trabalhos artísticos que iam de encontro com as restrições imposta pelo Estado.
Palavras chave: Música, arte, ditadura, censura, liberdade de expressão, denúncia, população.
ABSTRACT
This article aims to show how musicians and artists tried to circumvent the censorship denouncing torture and lack of freedom of expression imposed by the military dictatorship (1964-1985) occurred in Brazil. It also shows how the season resets the behavior of a population. But it is salutary to remember that there is a mild process, during the period studied, there was much resistance by many who fought against determinations that came from the top down manifesting itself through his artwork that went to meet the restrictions imposed by the state. Keywords: Music, art, dictatorship, censorship, freedom of speech, complaint, population.
IMPRENSA, MÚSICOS E ARTÍSTAS QUE DENUNCIARAM E SE REBELARAM CONTRA A DITADURA.
O Regime Militar foi instaurado pelo golpe de Estado de 31 de março de 1964. Este regime perdurou até a abertura política, em 1985. Foi um tempo de autoritarismo, perseguição policial e militar, prisão e tortura de quem era contra o sistema, supressão dos direitos constitucionais e uma censura prévia aos meios de comunicação.
Para a maioria da população tudo estava transcorrendo sem maiores problemas, o país estava progredindo, enaltecia-se a pátria e os governos militares passavam a ideia de que tinham um inimigo a combater, e este inimigo era o comunismo e as pessoas que ousavam em se revoltar com essa ideologia transmitida pela elite e por quem governava o país.
Segundo Marilena Chaui (2001), cada um de nós experimenta no cotidiano a forte presença de uma representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmos. Essa representação permite, em certos momentos, crer na unidade, na identidade e na indivisibilidade da nação e do povo brasileiro, e, em outros momentos, concebe a divisão social e a divisão política sob a forma dos amigos da nação e dos inimigos a combater; combate que engendrará ou conservará a unidade, a identidade e a indivisibilidade nacionais. A representação é suficientemente forte e fluída para receber essas alterações que não tocam em seu fundo.
"Cabe destacar que é um período que a população em sua maioria permaneceu adestrada, obediente, vigiada e por que não dizer, disciplinada por mecanismos hierarquizados do Estado. O exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar: um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam". (FOUCAULT, 1977, p. 153)
É claro que a disciplina e vigilância imposta pelos órgãos de informação e repressão do Regime Militar, acondicionaram à população, a temerem por qualquer movimento ou atividades que iriam de encontro às ordens estabelecidas pelos governantes.
Porém, houve quem enfrentasse o sistema, e é o que este trabalho vai procurar mostrar, mesmo com a vigilância constante por parte do Estado parte da imprensa, artistas e músicos desafiaram o governo autoritário, é o caso do artista Elifas Andreato2, que fez mais de 350 capas de discos, capas de livros, além de cartazes de filmes e peças de teatro.
No entanto, é no teatro, um de seus trabalhos mais expressivos, o cartaz da peça Mortos Sem Sepultura, que faz referência a obra de mesmo nome de Jean-Paul Sartre3, publicada em 1946.
Cartaz denunciando um tipo usual de tortura nas dependências do DOI-CODI
Trata-se de uma peça de teatro composta por três atos e narra a história de um grupo de partidários que, durante a segunda guerra mundial atacou um vilarejo francês, matou muitas pessoas consideradas inocentes e, conseqüentemente, foi preso pela milícia. Durante todo o tempo que permanecem presos, todos os envolvidos foram torturados sequencialmente e em separados, culminando em troca de olhares, onde se perguntavam quem seria o delator ou quem resistiria até a morte.
"Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o que lhe está submetido, separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até às singularidades necessárias e suficientes. Adestra as multidões confusas, móveis, inúteis de corpos e forças para uma multiplicidade de elementos individuais – pequenas células separadas, autonomias orgânicas, identidade e continuidade genéticas, segmentos combinatórios". (FOUCAULT, 1977, p. 153)
É comum por parte da sociedade vigiar e fiscalizar o outro, enxergar os defeitos e vícios do próximo, porém é mais comum ocultar nossas debilidades como forma de se defender e ainda não se expor diante do que é reprovado pela mesma sociedade.
Nota-se que embora a ambientação do quadro refere-se a França, Elifas, faz uma analogia com o que o Brasil vivia, tentava romper a treva da ditadura militar, ou seja, era um cartaz denúncia, era o retrato do Brasil. Tanto que em 1977, o cartaz foi apreendido pela Polícia Federal.
Em 25 de outubro de 1981, Elifas Andreato, produz um quadro para um exposição comemorativa do centenário de nascimento de Pablo Picasso4.
O quadro produzido por Elifas para a exposição denuncia o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas dependência do DOI-CODI. A curiosidade do quadro se deve a coincidência da data de nascimento de Picasso, 25 de outubro de 1881, com a morte de Herzog em 25 de outubro de 1975.
Como Elifas Andreato gosta de dizer: "Minha arte se liga à história da minha vida, das vidas assemelhadas à minha, e serve para contar o que eu e pessoas semelhantes a mim entendemos seja o mundo, a justiça e a liberdade".
Lembramos que Elifas, também foi um resistente. Resistiu nos "anos de chumbo" contra a ditadura. Através de sua arte procurou denunciar as barbáries que o regime cometia.
A imprensa também é destaque na época no que diz respeito a resistência à censura. Embora com o advento do AI-5 que estipulava a todo e qualquer veículo de comunicação deveria ter a sua pauta previamente aprovada e sujeita a fiscalização por parte dos agentes do Estado, muitas formas e medidas diversas foram tomadas como protesto, ou seja, algumas publicações impressas deixavam páginas inteiras em branco. Outras publicavam receitas de bolos e doces, também como forma de representar uma insatisfação com tudo que estava acontecendo. Essas iniciativas visavam fazer com que a população brasileira passasse a enxergar nas entre linhas as atrocidades que a ditadura impunha, desconhecidas pela maioria.
"A representação imaginária está carregada de afetividade e de emoções criadoras e poéticas. A diferença entre o imaginário e a ideologia é que, embora ambos façam parte do domínio das representações, referidas ao processo de abstração, a ideologia está investida por uma concepção de mundo que, ao pretender impor à representação um sentido definido, perverte tanto o real material quanto esse outro real perverte o imaginário". (TRINDADE, p. 8)
Como vimos, tinha sim resistência ao sistema e o meio musical não ficou de fora, encontraram como forma de protesto e denúncia a elaboração de canções que tinham duplo sentido, onde alertavam os mais atentos, que a música se tratava de críticas ao regime militar.
Cabe destacar as figuras de Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré, Taiguara, Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil, entre outros.
Geraldo Vandré foi indicado como um grande inimigo do regime militar. Sua música "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", conhecida como "Caminhando", cantada no Festival Internacional da Canção, em 1968, tornou-se um hino contra a ditadura militar. A música ficou proibida de ser cantada e executada em todo o país. Hoje, na maioria das manifestações e lutas por direitos na nossa sociedade ela não deixa de ser cantada.
A música de Geraldo Vandré fala em união, igualdade, inconformidade com as coisas e aborda a pobreza da população.
Um exemplo é o seu refrão: "Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer". Ele implica em um apelo a população para não ficar parada, deve-se lutar e exigir igualdade de direitos.
Geraldo Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Devido a perseguição do regime, sua carreira foi interrompida, mesmo quando retornou do exílio, nunca mais conseguiu recuperar a carreira.
Depois de Vandré, foi a vez de Chico Buarque de Holanda, o novo perseguido pelo regime autoritário. São várias canções que o cantor teve censurada, aqui darei destaque para a canção "Cálice", ela traz em seu bojo metáforas utilizadas para denunciar a tortura no Brasil, na letra da canção, Chico faz várias críticas:
No refrão: "Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue", podemos identificar a denuncia de um regime de opressão e de violência exacerbada.
Em outro refrão: "Como é difícil acordar calado se na calada da noite eu me dano", uma analogia a tantos que enfrentavam o sistema e eram presos e privados de sua liberdade durante a noite pelo policiais do regime.
Chico Buarque não desistiu, na sua música "Meu caro Amigo", tece novas críticas à ditadura, ao exílio e censura. Essa música era uma espécie de carta ao seu amigo Augusto Boal5, exilado na Itália, na letra da canção, Chico Buarque conta como vão as coisas no país destacando os problemas enfrentados pelos que aqui estavam submetidos ao regime.
Como vimos, existiu sim, uma resistência por parte da imprensa, de músicos e artistas durante a ditadura militar, eles não aceitaram de forma pacífica a censura imposta no período. Sempre trouxeram em suas canções e nos seus trabalhos artísticos a denúncia e a esperança de mudança. Segundo Santo Agostinho6: "A esperança tem duas filhas lindas, a raiva e a coragem, a raiva do estado das coisas, e a coragem de mudá-lo".
Portanto, esses artistas tiveram a coragem de enfrentar todas as adversidades, muitos inclusive, tiveram de se privar momentaneamente de suas carreiras e contribuíram muito para o processo de democratização do país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Neste artigo procurei mostrar os principais focos de resistência durante os 21 anos da ditadura militar. Foquei-me a resistência sem violência exercida por parte da imprensa, de músicos e artistas, diante do regime onde muitos foram perseguidos, outros tiveram suas carreiras prejudicadas e, outros tantos tiveram o exílio como única alternativa para poderem continuar a exercer sua liberdade de expressão.
Segundo FOUCAULT (1977) numa sociedade em que os elementos principais não são mais a comunidade e a vida pública, mas os indivíduos privados por um lado, e o Estado por outro, as relações só podem ser reguladas numa forma exatamente inversa ao espetáculo.
A Ditadura Militar vigiou e puniu quem quer que fosse para manter o regime, as proibições eram muitas, a vida da população era fiscalizada e observada, pouca liberdade tinha a população brasileira. Tudo isso acontecendo e poucas pessoas se davam contam dos "acontecimentos", ou seja, as torturas nos porões, os assassinatos e a falta de liberdade que eram impostas pelo Estado. Podemos utilizar até o refrão da música de Zé Geraldo7, Milho Aos Pombos, "Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos".
"No tempo moderno, estava reservado à influência sempre crescente do Estado, à sua intervenção cada dia mais profunda em todos os detalhes e relações da vida social, aumentar e aperfeiçoar as garantias estatais, utilizando e dirigindo para essa grande finalidade a construção e a distribuição de edifícios destinados a vigiar ao mesmo tempo uma grande multidão de homens". (FOUCAULT, 1977, P. 190)
O Estado transmitia que tudo estava andando em perfeita harmonia, o progresso ocorria, o país estava melhorando, não tinha por que duvidar dos governantes, muito menos enfrentá-los e resistir as suas ações.
"A ideologia, forma específica do imaginário social moderno, é a maneira necessária pela qual os agentes sociais representam para si mesmos o aparecer social, econômico e político, de tal sorte que essa aparência (que não devemos simplesmente tomar como sinônimo de ilusão ou falsidade), por ser o modo imediato e abstrato de manifestação do processo histórico, é o ocultamento ou a dissimulação do real". (CHAUÍ, 2000, p. 3)
O imaginário tornou-se a representação dos pensamentos; por meio dessa representação o homem estabeleceu a conexão com seu meio. Sua busca incessante pela concretização do imaginário fez com que as representações geradas instaurassem uma nova realidade social; surgiram ideais de beleza, de ordem, de sociedade, de progresso.
Nesse período foram poucas as pessoas que utilizaram seus poderes para promover um bem, a maioria esperava que algum poder externo fizesse o trabalho pelo qual eram responsáveis. Este artigo quer mostrar justamente que esse poder externo foi exercido por parte da imprensa, pelos músicos e artistas acima abordados, e por muitos outros, que não tiveram aqui os nomes referenciados, pois ficaria muito extenso o nosso trabalho. Portanto, todos tiveram a coragem de enfrentar o poder autoritário do Estado e exigir sua liberdade de expressão.
Lembramos das palavras de Montesquieu8: "O pior governo é o que exerce a tirania em nome das leis e da justiça".
Por outro lado, o melhor caminho para mudar o estado das coisas é se movimentar e lutar por aquilo que denominamos justiça e liberdade.
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena Souza. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo: 2001.
CHAUÍ, Marilena Souza. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas / Marilena Chauí – 8 ed. São Paulo: Cortez, 2000.
DAMÁSIO, Celuy Roberta Hundzinski. Artigo – Mortos Sem Sepultura e o olhar de O Ser e o Nada. Revista Espaço Acadêmico. Disponível em http://www.espacoacademico.com.br, Acesso em 20 fev. 2011.
DONATO, Hernâni. Brasil 5 séculos. São Paulo: Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes, 2000.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Lígia M. Pondé Vassallo. Petrópolis, Vozes, 1977.
TRINDADE, François Laplantine Liane. O que é imaginário. São Paulo: Editora Brasiliense. Versão Digital.
Notas:
1 Graduado em Licenciatura em História pela UNIESP e Pós-graduado em História: Educação, Relações Sociais e Cultura pela UNINOVE.
2 Elifas Andreato (Rolândia, 1946) é um designer gráfico e ilustrador brasileiro. Com mais de quarenta anos de atividade como artista plástico, Elifas é especialmente reconhecido como ilustrador de inúmeras capas de discos de vinil nos anos 70, incluindo grandes nomes da Música Popular Brasileira. (http://pt.wikipedia.org/ em 20 de fevereiro de 2011, às 12:00h) 3 Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de Junho de 1905 – Paris, 15 de Abril de 1980) foi um filósfo, escritor e crítico francês, conhecido representante do existencialismo.. (http://pt.wikipedia.org/ em 29 de fevereiro de 2011, às 14:00h)
4 Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 – Mougins, 8 de abril de 1973), foi um pintor, escultor e desenhador espanhol, tendo também desenvolvido a poesia. (http://pt.wikipedia.org/ em 21 de fevereiro de 2011, às 20:05h)
5 Augusto Pinto Boal (Rio de Janeiro, 16 de março de 1931 – Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009) foi diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional. (http://pt.wikipedia.org/ em 26 de fevereiro de 2011, às 20:30h) 6 Aurélio Agostinho (em latim: Aurelius Augustinus), dito de Hipona, conhecido como Santo Agostinho (Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de 430), foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo e é um Padre latino e Doutor da Igreja Católica. (http://pt.wikipedia.org/ em 26 de fevereiro de 2011, às 20:40h)
7 José Geraldo Juste, conhecido como Zé Geraldo, (Rodeiro, 9 de dezembro de 1944) é um cantor e compositor brasileiro.. (http://pt.wikipedia.org/ em 06 de março de 2011, às 18:00h)
8 Charles-Louis de Secondat, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de janeiro de 1689 – Paris, 10 de fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais. (http://pt.wikipedia.org/ em 10 de março de 2011, às 21:00h)
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