O Impeachment do ex-presidente Collor.
Este texto encontra-se no site
mundoestranho.abril.com.br
O processo que
culminou com a renúncia do presidente Fernando Collor de Mello,
em 29 de dezembro de 1992, foi resultado de meses de investigação
parlamentar provocada por denúncias de corrupção
divulgadas pela imprensa. Ainda candidato, em 1989, o ex-governador de Alagoas
era bem diferente dos políticos da época: relativamente jovem (39
anos), fazia cooper, andava
de jet-ski e estampava frases de impacto,
como “Não fale em crise. Trabalhe”, em suas camisetas.
Quando assumiu, em março
de 1990, sua popularidade começou a ficar abalada ao confiscar
o saldo das poupanças bancárias a fim de frear a inflação. Cada pessoa ficou
com apenas 50 mil cruzeiros (hoje, cerca de R$ 6 mil) disponíveis e muita gente
empobreceu da noite para o dia. Não deu certo: a inflação continuou crescendo
e, em 1991, já passava dos 400% acumulados no ano,
quando surgiram os primeiros escândalos de corrupção ligados a Collor.
Estudantes - "Os caras pintadas"
QUEDA LIVRE
Fraudes financeiras provocaram a cassação do
primeiro presidente eleito por voto direto após 21 anos de ditadura.
1. Pedro Collor, irmão do
presidente, concedeu entrevista à revista VEJA, em maio de 1992, denunciando um
esquema de lavagem de dinheiro no exterior comandado por Paulo César (PC)
Farias, tesoureiro da campanha eleitoral de 1989. Fernando acusou o irmão de insanidade
mental – desmentida por exames.
2. O Congresso Nacional
criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias.
Vieram à tona esquemas como a Operação Uruguai: empréstimos fraudulentos para
financiar a campanha de 1989. Além disso, contas fantasma operadas por PC
financiavam a reforma da Casa da Dinda, onde Collor morava.
3. As ligações do
presidente com os golpes de PC ficaram evidentes. Um carro Fiat Elba para uso
pessoal do presidente foi comprado com dinheiro vindo das contas fantasma do
tesoureiro de campanha. Em agosto, o motorista Eriberto França contou à revista Istoécomo levava contas de Collor para serem
pagas por empresas de fachada de PC.
4. Em busca de apoio, o
presidente fez um pronunciamento pedindo para que a população fosse às ruas, em
16 de agosto, vestida com as cores da bandeira nacional. O povo não atendeu e
saiu vestido de preto, em protesto. Entre os manifestantes, destacaram-se
grupos de estudantes batizados pela imprensa de “caras-pintadas”.
5. Em 24 de agosto, um relatório da
CPI atestou que US$ 6,5 milhões haviam sido transferidos irregularmente para
financiar gastos do presidente. A insatisfação popular aumentou e, em 29 de
setembro, o impeachment foi aprovado por 441 dos 509 deputados. Collor foi afastado
e substituído por Itamar Franco, seu vice.
6. Collor foi,
então, julgado pelo Senado Federal. Em 29 de dezembro, o presidente renunciou
para tentar engavetar o processo e preservar seus direitos políticos. No
entanto, por 76 votos a 3, os senadores condenaram o presidente, que não
poderia concorrer em eleições pelos oito anos seguintes.
CURIOSIDADES:
·
Também
foram descobertas compras superfaturadas na
Legião Brasileira de Assistência, entidade do governo presidida pela
primeira-dama, Rosane Collor.
·
Collor
foi eleito pelo Partido da Reconstrução Nacional,
criado só para abrigar sua candidatura. Em 2000, o PRN virou PTC (Partido Trabalhista Cristão).
·
A
renúncia foi ofuscada no noticiário pelo assassinato da
atriz Daniela Perez por Guilherme de Pádua. A dupla contracenava na
novela De Corpo e Alma, escrita por Glória Perez, mãe de
Daniela.
·
Em
17 de setembro, ocorreu a maior manifestação contra
Collor, com 750 mil pessoas lotando o vale
do Anhangabaú, em São Paulo.
Que fim levaram?
Mortes misteriosas e reviravoltas políticas marcam a trajetória dos principais personagens do impeachment
FERNANDO COLLOR
Absolvido criminalmente pelo Supremo Tribunal Federal em 1994. Em 2006,
foi eleito senador – cargo que ocupa até hoje – representando o estado de
Alagoas.
PEDRO COLLOR
Morreu com 42 anos, em 1994, vítima de um câncer cerebral. A mãe, Leda,
sofreu um AVC durante o auge da crise e ficou três anos em coma, até morrer, em
1995.
PC FARIAS
Condenado por sonegação fiscal, falsidade ideológica e outros crimes. Em
1996, em liberdade condicional, foi achado morto com a namorada – ambos
baleados – em circunstâncias misteriosas.
OPOSITORES
“Estrelas” da CPI do impeachment acabaram passando de juízes a julgados,
caso dos então deputados José Dirceu e José Genoíno, condenados no escândalo do
Mensalão.
FONTES: Revistas VEJA e Istoé e jornais Folha
de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil; Livros Notícias
do Planalto, de Mário Sérgio Conti e Morcegos Negros, de Lucas Figueiredo.